FATO
OPINIÃO
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OPINIÃO
Habilidade da área:
EM13LGG102 - Analisar visões de mundo, conflitos de interesse, preconceitos e ideologias presentes nos discursos veiculados nas diferentes mídias, ampliando suas possibilidades de explicação, interpretação e intervenção crítica da/na realidade.
Interpretar diferentes modelos de anúncio publicitário;
● Reconhecer a linguagem verbal e a não verbal presentes em um anúncio publicitário;
● Reconhecer e familiarizar-se com elementos de persuasão.
O realismo foi um movimento literário e artístico que teve início em meados do século XIX, na França.
Como o próprio nome sugere, essa manifestação cultural significou um olhar mais realista e objetivo sobre a existência e as relações humanas, surgindo como oposição ao romantismo e sua visão idealizada da vida.
A vertente se manifestou principalmente na literatura, sendo seu marco inicial o romance realista Madame Bovary, de Gustave Flaubert, em 1857.
Entretanto, é possível encontrar também nas artes visuais, sobretudo na pintura, obras de cunho realista. Foram artistas de destaque Gustav Courbet, na França, e Almeida Junior, no Brasil.
O movimento se estendeu para várias partes do mundo e teve espaço em solo brasileiro, principalmente na literatura de Machado de Assis.
As características citadas contemplam principalmente a escola literária realista. Entretanto, a mesma atmosfera objetiva e crítica foi retratada nas outras linguagens da arte, como na pintura realista..
O contexto histórico e social no período do realismo foi bastante conturbado. Foi uma época de grandes transformações que revolucionaram a forma das pessoas se relacionarem e entenderem a realidade ao seu redor.
O modelo capitalista se intensificou e a classe burguesa passou a ter maior poder de decisão, gerando um aprofundamento das desigualdades sociais, com maior exploração da classe trabalhadora, exposta a longas jornadas de trabalho.
É quando ocorre a Segunda Revolução Industrial e o crescimento da urbanização, assim como da poluição nas grandes cidades e demais problemas urbanos.
Soma-se a esse cenário avanços tecnológicos importantes, como a lâmpada e o carro movido à gasolina.
É ainda nesse contexto que surgem teorias científicas que objetivavam interpretar e explicar o mundo, como o Evolucionismo de Darwin e o Positivismo de Auguste Comte.
Assim, os pensadores da época, artistas e escritores, são influenciados pelos acontecimentos ao redor e pelos anseios da sociedade.
O movimento realista reflete seu tempo, na busca por uma linguagem mais clara e verossímil, ao passo que questiona os princípios e padrões burgueses.
Vale destacar que a vertente surge também como um contraponto ao romantismo, movimento vigente que trazia o individualismo e a idealização da realidade como características marcantes.
O movimento realista têm origem na literatura com o lançamento do romance inaugural do realismo, Madame Bovary, de Gustave Flaubert em 1857, na França.
A obra teve destaque na época, sendo considerada um ícone da literatura francesa. Flaubert inovou na narrativa ao expor um casamento infeliz, questionando a idealização romântica e trazendo assuntos polêmicos, como o adultério e o suicídio.
Na França, além de Flaubert, teve destaque Emile Zola, com a obra Les Rougon-Macquart (1871).
Essa nova forma de enxergar e retratar a realidade disseminou-se por outros países.
Em Portugal, Eça de Queiroz destaca-se como escritor realista, com O Primo Basílio (1878) e O crime do Padre Amaro (1875).
Em solo britânico, temos a escritora Mary Ann Evans, que sob o pesudônimo de George Eliot, escreveu algumas obras realistas, como Middlemarch (1871). Há ainda Henry James, autor de Retrato de uma Senhora (1881).
Na Rússia, são muito reconhecidos os escritores realistas Fiódor Dostoiévski, Liev Tolstói e Anton Tchekhov.
Eles produziram obras icônicas da literatura mundial como Crime e Castigo (1866), de Dostoiévski, Anna Karenina (1877), de Tolstoi e As três irmãs (1901) de Tchekhov.
Influenciados pelo movimento europeu, o realismo estende-se também para as terras brasileiras.
No Brasil, o realismo surge durante do Segundo Reinado de Dom Pedro II como uma maneira de criticar a sociedade burguesa e a monarquia, expondo contradições e desigualdades sociais.
Isso porque, foi o período em que ocorre a abolição da escravatura, a chegada de imigrantes e diversos avanços tecnológicos.
Assim, é na figura de Machado de Assis que o movimento ganha seu maior representante nacional.
A publicação de Memórias Póstumas de Brás Cubas, em 1881, foi o marco do movimento no país, sendo considerado o primeiro romance realista brasileiro.
Machado de Assis foi um escritor negro nascido em Livramento, no Rio de Janeiro. Vindo de uma família humilde, Machado de Assis estudou por conta própria e tornou-se um dos escritores de maior reconhecimento do país.
Além de romancista, Machado de Assis também foi crítico literário, jornalista, poeta, cronista e um dos fundadores da Academia brasileira de Letras.
Teve uma carreira fértil na literatura, produzindo diversas obras importantes, com destaque para Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881), Quincas Borba (1891), Dom Casmurro (1899), Esaú e Jacó (1904) e Memorial de Aires (1908).
Raul D’Ávila Pompeia foi escritor, jornalista e professor. Publicou em 1880 a obra Uma tragédia no Amazonas, seu primeiro romance. Mas foi com O ateneu, em 1888, que o autor ganha destaque no realismo.
Pompeia foi um homem de princípios, defensor da abolição da escravatura e das causas republicanas. Deixava transparecer seus ideais em seus textos realistas, o que acabou por causar grande polêmica.
Com uma vida conturbada, Raul de Pompeia comete suicídio aos 32 anos em 1895.
Visconde de Taunay, cujo nome de batismo era Alfredo Maria Adriano d'Escragnolle Taunay, foi um escritor, militar e político brasileiro.
Filho de família aristocrata, era defensor da monarquia e teve o título de Visconde concedido por D. Pedro II, em 1889.
Mesclando aspectos do romantismo e do realismo, a obra Inocência (1872) é a mais conhecida de Taunay.
Leia também: Realismo no Brasil.
Em Portugal, a vertente se consolidou através de um episódio conhecido como Questão Coimbrã, ocorrido em 1865.
Havia um clima de disputa entre os escritores do romantismo e novos autores que buscavam outra leitura da realidade.
O escritor Feliciano de Castilho, que se identificava como romântico, escreveu em uma carta duras críticas a autores da nova geração que estudavam na Universidade de Coimbra, como Antero de Quental, Vieira de Castro e Teófilo Braga.
Castilho afirmou que os colegas não possuíam “bom senso e bom gosto”, devida à maneira oposta a dos românticos de se expressar. Por conta disso, Antero de Quental decide escrever uma obra que leva justamente o título Bom senso e bom gosto, lançada no mesmo ano de 1865.
A partir de então, o texto de Quental em resposta a Feliciano de Castilho torna-se um marco na literatura realista portuguesa e o movimento passa a ter destaque no país.
Um nome essencial quando se fala em realismo português é Eça de Queiroz, autor dos romances O Primo Basílio (1878), O Mandarim (1879), Os Maias (1888).
Nas artes plásticas, sobretudo na pintura, o movimento realista também floresceu, ainda que em menor intensidade.
Gustav Coubert (1819-1877) foi um dos artistas que utilizou a pintura como forma de expressar suas ideias e concepções realistas. O francês abordava em suas telas cenas de trabalho, buscando a denúncia social.
Outro pintor francês de destaque na arte realista foi Jean-François Millet (1814-1875), que também se valia do universo do trabalho, principalmente do campo, como inspiração para sua pintura. Millet carregava em suas telas uma atmosfera poética que dava voz aos camponeses.
No Brasil, o artista do realismo que ganhou mais destaque foi Almeida Junior, responsável por telas importantes como Caipira picando fumo (1893), O Violeiro (1899) e Saudade (1899).
O romantismo foi a vertente cultural já acorria antes do realismo. Nela, a visão de mundo era idealizada, fantasiosa e subjetiva. A linguagem empregada era metafórica e evasiva, com a valorização do sentimento e emoção.
O realismo, vertente que surge como oposição ao romantismo, a linguagem é culta e direta, mas ainda assim detalhando com precisão cenas e personagens. Tem a intenção de retratar o mundo como ele é, explicando o ser humano objetivamente e sem ilusões.
Já o naturalismo é um movimento que desponta como um aprofundamento de realismo, trazendo linguagem simplificada, representando tipos humanos animalizados e patológicos. Busca o engajamento social e o cientificismo.
Muitas vezes realismo e naturalismo surgem em uma mesma obra literária.
Agora, vamos ler um conto de Machado de Assis. Atenção, os sinais gráficos [...] indicam que uma pequena parte foi suprimida, para caber nesta atividade.
A CARTEIRA
(Machado de Assis)
DE REPENTE, Honório olhou para o chão e viu uma carteira. Abaixar-se, apanhá-la e guardá-la foi obra de alguns instantes. Ninguém o viu, salvo um homem que estava à porta de uma loja, e que, sem o conhecer, lhe disse rindo:
— Olhe, se não dá por ela, perdia-a de uma vez.
— É verdade, concordou Honório envergonhado.
Para avaliar a oportunidade desta carteira, é preciso saber que Honório tem de pagar amanhã uma dívida, quatrocentos e tantos mil-réis, e a carteira trazia o bojo recheado. A dívida não parece grande para um homem da posição de Honório, que advoga; mas todas as quantias são grandes ou pequenas, segundo as circunstâncias, e as dele não podiam ser piores. Gastos de família excessivos, a princípio por servir a parentes, e depois por agradar à mulher, que vivia aborrecida da solidão; baile daqui, jantar dali, chapéus, leques, tanta coisa mais, que não havia remédio senão ir descontando o futuro. Endividou-se. Começou pelas contas de lojas e armazéns; passou aos empréstimos, duzentos a um, trezentos a outro, quinhentos a outro, e tudo a crescer, e os bailes a darem-se, e os jantares a comerem-se, um turbilhão perpétuo, uma voragem. Foco no conteúdo —Tu agora vais bem, não? dizia-lhe ultimamente o Gustavo C..., advogado e familiar da casa.
— Agora vou, mentiu o Honório. A verdade é que ia mal. Poucas causas, de pequena monta, e constituintes remissos; por desgraça perdera ultimamente um processo, com que fundara grandes esperanças. Não só recebeu pouco, mas até parece que ele lhe tirou alguma cousa à reputação jurídica; em todo caso, andavam mofinas nos jornais.
D. Amélia não sabia nada; ele não contava nada à mulher, bons ou maus negócios. Não contava nada a ninguém. Fingia-se tão alegre como se nadasse em um mar de prosperidades. Quando o Gustavo, que ia todas as noites à casa dele [...]; depois ia ouvir os trechos de música alemã, que D. Amélia tocava muito bem ao piano, e que o Gustavo escutava com indizível prazer, ou jogavam cartas, ou simplesmente falavam de política.
Um dia, a mulher foi achá-lo dando muitos beijos à filha, criança de quatro anos, e viu-lhe os olhos molhados; ficou espantada, e perguntou-lhe o que era.
— Nada, nada. [...]
A dívida urgente de hoje são uns malditos quatrocentos e tantos mil réis de carros. Nunca demorou tanto a conta, nem ela cresceu tanto, como agora; [...] meteu no bolso, e foi andando. Eram cinco horas da tarde. Tinha-se lembrado de ir a um agiota, mas voltou sem ousar pedir nada. Ao enfiar pela Rua da Assembleia é que viu a carteira no chão, apanhou-a, meteu no bolso, e foi andando.
[...] Tinha medo de abrir a carteira; podia não achar nada, apenas papéis e sem valor para ele. Ao mesmo tempo, e esta era a causa principal das reflexões, a consciência perguntava-lhe se podia utilizar-se do dinheiro que achasse.
Não lhe perguntava com o ar de quem não sabe, mas antes com uma expressão irônica e de censura. Podia lançar mão do dinheiro, e ir pagar com ele a dívida? Eis o ponto. A consciência acabou por lhe dizer que não podia, que devia levar a carteira à polícia, ou anunciá-la; mas tão depressa acabava de lhe dizer isto, vinham os apuros da ocasião, e puxavam por ele, e convidavam-no a ir pagar a cocheira. Chegavam mesmo a dizer-lhe que, se fosse ele que a tivesse perdido, ninguém iria entregar-lha; insinuação que lhe deu ânimo.
Tudo isso antes de abrir a carteira. Tirou-a do bolso, finalmente, mas com medo, quase às escondidas; abriu-a, e ficou trêmulo. Tinha dinheiro, muito dinheiro; não contou, mas viu duas notas de duzentos mil-réis, algumas de cinquenta e vinte; calculou uns setecentos mil-réis ou mais; quando menos, seiscentos. Era a dívida paga; eram menos algumas despesas urgentes.
Honório teve tentações de fechar os olhos, correr à cocheira, pagar, e, depois de paga a dívida, adeus; reconciliar-se-ia consigo. Fechou a carteira, e com medo de a perder, tornou a guardá-la. [...] “Se houver um nome, uma indicação qualquer, não posso utilizar me do dinheiro,” pensou ele.
Esquadrinhou os bolsos da carteira. Achou cartas, que não abriu, bilhetinhos dobrados, que não leu, e por fim um cartão de visita; leu o nome; era do Gustavo. Mas então, a carteira?... Examinou-a por fora, e pareceu-lhe efetivamente do amigo. Voltou ao interior; achou mais dois cartões, mais três, mais cinco. Não havia duvidar; era dele. A descoberta entristeceu-o. Não podia ficar com o dinheiro, sem praticar um ato ilícito, e, naquele caso, doloroso ao seu coração porque era em dano de um amigo. [...] “Paciência, disse ele consigo; verei amanhã o que posso fazer.”
Chegando à casa, já ali achou o Gustavo, um pouco preocupado e a própria D. Amélia o parecia também. Entrou rindo, e perguntou ao amigo se lhe faltava alguma cousa. — Nada. — Nada? — Por quê? — Mete a mão no bolso; não te falta nada? — Falta-me a carteira, disse o Gustavo sem meter a mão no bolso. Sabes se alguém a achou? — Achei-a eu, disse Honório entregando-lha. Gustavo pegou dela precipitadamente, e olhou desconfiado para o amigo.
Esse olhar foi para Honório como um golpe de estilete; depois de tanta luta com a necessidade, era um triste prêmio. Sorriu amargamente; e, como o outro lhe perguntasse onde a achara, deu lhe as explicações precisas. — Mas conheceste-a? — Não; achei os teus bilhetes de visita. Honório deu duas voltas, e foi mudar de toilette para o jantar. Então Gustavo sacou novamente a carteira, abriu-a, foi a um dos bolsos, tirou um dos bilhetinhos, que o outro não quis abrir nem ler, e estendeu-o a D. Amélia, que, ansiosa e trêmula, rasgou-o em trinta mil pedaços: era um bilhetinho de amor.
(Adaptado para este material)
• Vocês usariam microfone? Por quê? • Qual seria o tom de voz adequado para o cenário? • Que tipo de roupa escolheriam? • Usariam uma aprese...