segunda-feira, 6 de novembro de 2023

Trovadorismo

 O Trovadorismo, também chamado de Primeira Época Medieval, é o período que se estende de 1189 (ou 1198) até 1434.

Em Portugal, esse movimento literário tem início com a Canção Ribeirinha, escrita por Paio Soares de Taveirós. Ele termina com a nomeação de Fernão Lopes para o cargo de cronista da Torre do Tombo.

A cultura trovadoresca, surgida entre os séculos XI e XII, reflete bem o momento histórico que caracteriza o período. Nele, temos a Europa cristã e a organização das Cruzadas em direção ao Oriente.

Alguns fatores que merecem destaque na Península Ibérica são:

  • a luta dos cristãos contra os mouros para conquistar o território da Península Ibérica;
  • o poder descentralizado na sociedade feudal, onde os reis e os senhores feudais detinham o poder;
  • o compromisso de fidelidade selado entre os nobres do período feudal, chamado de suserania e vassalagem;
  • o poder espiritual concentrado nas mãos do clero, responsável pelo pensamento teocêntrico (Deus no centro de todas as coisas).

Características do Trovadorismo




O trovadorismo foi o primeiro movimento literário europeu (séculos XI a XIV) que se caracterizou pela união da música e da poesia com a produção de cantigas líricas (com foco em sentimentos e emoções) e satíricas (com críticas diretas ou indiretas).

Como principais características do trovadorismo, temos:

1. Forte relação da música e a poesia

No trovadorismo, grande parte dos textos eram produzidos para serem cantados e acompanhados de instrumentos musicais (viola, flauta e alaúde). Isso porque, na Idade Média, a maior parte pessoas não sabiam ler e escrever.

Sendo assim, as poesias cantadas (cantigas) eram memorizadas e recitadas para os nobres que viviam na corte e também para pessoas comuns, por exemplo, nos mercados medievais.

2. Presença de trovadores, jograis e menestréis

Os autores das cantigas, que faziam trovas e rimas, eram conhecidos como “trovadores”, daí o nome do movimento. De maneira geral, os trovadores eram homens pertencentes à nobreza ou ao Clero.

Além dele, haviam os “jograis” e os “menestréis”. Os jograis eram os responsáveis por memorizar as cantigas e recitá-las em locais públicos. Os menestréis também memorizavam as cantigas, mas, além disso, tocava os instrumentos musicais.

3. Produção de cantigas líricas e satíricas

O trovadorismo se destacou com a produção de poesias líricas (cantigas de amor e amigo) e poesias satíricas (cantigas de escárnio e maldizer).

A poesia lírica explora os sentimentos e emoções do autor e, por isso, são escritas em primeira pessoa (eu). Nas cantigas de amor, o eu lírico (a voz da poesia) é masculino e o tema mais explorado é o sofrimento amoroso. Já na cantiga de amigo, o eu lírico é feminino e o tema mais frequente é a saudade e o lamento amoroso da dama que sofre com a ausência do amado.

Já a poesia satírica critica diversos aspectos da sociedade da época, além de ridicularizar as pessoas. As cantigas de escárnio fazem críticas indiretas, enquanto as cantigas de maldizer produzem críticas diretas através de uma linguagem mais grosseira.

4. Amor cortês e vassalagem amorosa

Uma forte característica explorada nas cantigas de amor do trovadorismo é o amor cortês e a vassalagem amorosa. Juntos, esses conceitos representam a submissão e fidelidade amorosa do homem diante de sua amada. Esse sentimento é expresso pela promessa de honrar e servir a dama com humildade e paciência.

Nesse sentido, a mulher é idealizada, inatingível e considerada o ser mais belo e puro. No amor cortês, os homens idealizam as mulheres da corte que eram casadas e, por isso, trata-se de um amor adúltero e incapaz de se realizar.

5. Produção de textos em prosa

Embora o trovadorismo tenha se popularizado e se destacado na produção poética, ele reuniu também diversos textos em prosa, como as novelas de cavalaria, as hagiografias, os cronicões e os nobiliários.

As novelas de cavalaria são textos narrativos que relatam grandes feitos e aventuras fantásticas de heróis e cavaleiros medievais que enfrentavam batalhas e monstros.


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Cantigas trovadoescas

 Cantigas trovadorescas é a denominação concedida aos textos poéticos da primeira época medieval e que fizeram parte do movimento literário do trovadorismo.

Em geral, eram músicas cantadas em coro e, por isso, recebem o nome de "cantigas".

As cantigas trovadorescas estão classificadas em dois tipos:

  1. Cantigas líricas: incluem as cantigas de amor e amigo, que estão focadas nos sentimentos e nas emoções.
  2. Cantigas satíricas: incluem as cantigas de escárnio e maldizer, que usam a ironia e o sarcasmo para criticar ou ridicularizar.

Cantigas de Amor

As cantigas de amor surgiram entre os séculos XI e XIII influenciadas pela arte desenvolvida na região da Provença, no sul da França.

A influência do lirismo provençal foi intensificada com a chegada de colonos franceses na Península Ibérica e que foram lutar contra os mouros ligados a Provença. Além disso, destaca-se o intenso comércio entre a França e a região ocidental da Península Ibérica, alcançando o Atlântico Norte.

Nesse contexto, surge o "amor cortês", baseado num amor impossível, onde os homens sofrem de amor, pois desejavam mulheres da corte que geralmente eram casadas com nobres.

Esse conceito é mais intenso na voz dos trovadores da Galiza e Portugal, que não se limitam a imitar, mas a "sofrer de maneira mais dolorida".


Características e exemplos de cantigas de amor

As cantigas de amor são escritas em primeira pessoa do singular (eu). Nelas, o eu poético, ou seja, o sujeito fictício que dá voz à poesia, declara seu amor a uma dama, tendo como pano de fundo o formalismo do ambiente palaciano. É por este motivo que ele se dirige a ela, chamando-a de senhora.

“Cantiga da Ribeirinha” de Paio Soares de Taveirós

No mundo non me sei parelha,
mentre me for' como me vai,
ca ja moiro por vós - e ai!
mia senhor branca e vermelha,
Queredes que vos retraia
quando vos eu vi em saia!
Mao dia me levantei,
que vos enton non vi fea!

E, mia senhor, des aquelha
me foi a mí mui mal di'ai!,
E vós, filha de don Paai
Moniz, e ben vos semelha
d'haver eu por vós guarvaia,
pois eu, mia senhor, d'alfaia
nunca de vós houve nen hei
valía dũa correa.

Esse tipo de cantiga mostra a servidão amorosa nos mais puros padrões da vassalagem.

Dessa forma, a mulher é vista como um ser inatingível, uma figura idealizada, a quem é dedicado um amor sublime também idealizado.

Cantiga “A dona que eu am’e tenho” de Bernardo de Bonaval

A dona que eu amo e tenho por Senhor
amostra-me-a Deus, se vos en prazer for,
se non dade-me-a morte.

A que tenh'eu por lume d'estes olhos meus
e porque choran sempr(e) amostrade-me-a Deus,
se non dade-me-a morte.

Essa que Vós fezestes melhor parecer
de quantas sei, a Deus, fazede-me-a veer,
se non dade-me-a morte.

A Deus, que me-a fizestes mais amar,
mostrade-me-a algo possa con ela falar,
se non dade-me-a morte.

Essas características justificam a presença de um forte lirismo. Esse é representado pela "coisa d'amor" (o sofrimento amoroso); e "coita", que em galego-português, significa "dor, aflição, desgosto". Para os trovadores, esse sentimento é pior que a morte, e o amor é a única razão de viver.

Cantiga “Ai eu de min, e que será?” de Nuno Fernández

Ai eu de min, e que será?
Que fui tal dona querer ben
a que non ouso dizer ren
de quanto mal me faz haver.
E feze-a Deus parecer
melhor de quantas no mund'ha.

Mais en grave día nací,
se Deus conselho non m'i der;
ca destas coitas qual-xe-quer
m'é min mui grave d'endurar,
como non lh'ousar a falar,
e ela parecer assí,

Ela, que Deus fez por meu mal!
Ca ja lh'eu sempre ben querrei,
e nunca end'atenderei
con que folgu'o meu coraçón,
que foi trist', ha i gran sazón,
polo seu ben, ca non por al.

Cantigas de Amigo

As cantigas de amigo originam-se do sentimento popular e na própria Península Ibérica. Nelas, o eu poético é feminino, no entanto, seus autores são homens.

Essa é a principal característica que as diferencia das cantigas de amor, onde o eu lírico é masculino. Além disso, o ambiente descrito nas cantigas de amigo não é mais a corte, e sim, a zona rural.

Os cenários envolvem mulheres camponesas, característica que reflete a relação dos nobres com as plebeias. Esta é, sem dúvida, uma das principais marcas do patriarcalismo da sociedade portuguesa.

Características e exemplos de cantigas de amigo

As cantigas de amigo são escritas em primeira pessoa (eu) e, geralmente, são apresentadas em forma de diálogo. Isso resulta em um trabalho formal mais apurado em relação às cantigas de amor.

Cantiga “Ai flores, ai flores do verde pino” de D. Dinis

- Ai flores, ai flores do verde pino,
se sabedes novas do meu amigo!
ai Deus, e u é?

Ai flores, ai flores do verde ramo,
se sabedes novas do meu amado!
ai Deus, e u é?

Se sabedes novas do meu amigo,
aquel que mentiu do que pôs comigo!
ai Deus, e u é?

Se sabedes novas do meu amado,
aquel que mentiu do que mi há jurado!
ai Deus, e u é?

-Vós me preguntades polo voss'amigo,
e eu ben vos digo que é san'e vivo.
Ai Deus, e u é?

Vós me preguntades polo voss'amado,
e eu ben vos digo que é viv'e sano.
Ai Deus, e u é?

E eu ben vos digo que é san'e vivo
e seerá vosc'ant'o prazo saído.
Ai Deus, e u é?

E eu ben vos digo que é viv'e sano
e seerá vosc'ant'o prazo passado.
Ai Deus, e u é?

Essas cantigas são a expressão do sentimento feminino. Nesse contexto, a mulher sofre por se ver separada do amigo (que também pode ser o amante ou o namorado). Ela vive angustiada por não saber se o amigo voltará ou não, ou ainda, se a trocará por outra.

Cantiga “Ondas do Mar de Vigo” de Martin Codax

Ondas do mar de Vigo,
se vistes meu amigo
e ai Deus, se verrá cedo?

Ondas do mar levado,
se vistes meu amado?
e ai Deus, se verrá cedo?

Se vistes meu amigo,
o por que eu sospiro?
e ai Deus, se verrá cedo?

Se vistes meu amado,
o por que hei gram coidado?
e ai Deus, se verrá cedo?

Esse sofrimento é, em geral, denunciado a um amigo que serve de confidente. Os demais personagens que compartilham o sofrimento da mulher são, a mãe, o amigo ou mesmo um elemento da natureza que aparece personificado.

Cantiga “A meu amigo, que eu sempr'amei” de João Garcia

A meu amigo, que eu sempr'amei,
des que o vi, mui máis ca min nen al
foi outra dona veer por meu mal,
mais eu, sandía, quando m'acordei,
non soub'eu al en que me del vengar,
senón chorar quanto m'eu quis chorar.

Mai-lo amei ca min nen outra ren,
des que o vi, e foi m'ora fazer
tan gran pesar que houver'a morrer,
mais eu, sandía, que lhe fiz por én?
Non soub'eu al en que me del vengar,
senón chorar quanto m'eu quis chorar.

Sab'ora Deus que no meu coraçón
nunca ren tiv'eu eno seu logar
e foi-mi ora fazer tan gran pesar,
mais eu, sandía, que lhe fiz entón?
Non soub'eu al en que me del vengar,
senón chorar quanto m'eu quis chorar.

Cantigas de Escárnio

As cantigas de escárnio são cantigas que apresentavam, em geral, uma crítica indireta e irônica. Abaixo, temos um exemplo desse tipo de cantiga:

Cantiga “Ai, dona fea, foste-vos queixar” de João Garcia de Guilhade

Ai dona fea! Foste-vos queixar
Que vos nunca louv'en meu trobar
Mais ora quero fazer un cantar
En que vos loarei toda via;
E vedes como vos quero loar:
Dona fea, velha e sandia!

Ai dona fea! Se Deus mi pardon!
E pois havedes tan gran coraçon
Que vos eu loe en esta razon,
Vos quero já loar toda via;
E vedes qual será a loaçon:
Dona fea, velha e sandia!

Dona fea, nunca vos eu loei
En meu trobar, pero muito trobei;
Mais ora já en bom cantar farei
En que vos loarei toda via;
E direi-vos como vos loarei:
Dona fea, velha e sandia!

Note que nas cantigas de escárnio, podemos encontrar expressões ambíguas, ou seja, com duplo sentido.

Cantiga “A la fe, Deus, senón por vossa madre” de Gil Peres Conde

A la fe, Deus, senón por vossa madre,
que é a mui bõa Santa María,
fezera-vos eu pesar, u diría,
pola mia senhor, que mi vós filhastes,
que vissedes vós que mal baratastes,
ca non sei tan muito de vosso padre.

Por que vos eu a vós esto sofresse,
senón por ela, se lhi non pesasse?
Morrera eu, se vos com'hom'amasse
a mía senhor, que mi vós tolhestes.
Se eu voss'era, por que me perdestes?
Non queriades que eu máis valesse?

Dizede-mi ora que ben mi fezestes,
por que eu crea en vós nen vos servia
senón gran tort'endoad'e sobervia,
ca mi teedes mia senhora forçada;
nunca vos eu do vosso filhei nada,
des que fui nado, nen vós non mi o destes.

Faría-m'eu o que nos vós fazedes:
leixar velhas feas, e as fremosas
e mancebas filhá-las por esposas.
Quantas queredes vós, tantas filhades,
e a mí nunca mi nen ũa dades:
assí partides migo quant'havedes.

Nen as servides vós nen as loades,
e van-se vosqu'e, poi-las aló teedes,
vestide-las mui mal e governades,
e metedes-no-las tra-las paredes.

Cantigas de Maldizer

As cantigas de maldizer são canções cuja estrutura comporta críticas mais diretas e grosseiras. Nelas, são usadas termos de baixo calão, como palavrões, pois o intuito é mesmo agredir alguém verbalmente.

Confira, um exemplo desse tipo de cantiga:

Cantiga de “A mim dam preç', e nom é desguisado” de Afonso Anes do Cotom

A mim dam preç', e nom é desguisado,
dos maltalhados, e nom erram i;
Joam Fernandes, o mour', outrossi,
nos maltalhados o vejo contado;
e pero maltalhados semos [n]ós,
s'homem visse Pero da Ponte em cós,
semelhar-lh'-ia moi peor talhado.

Diferente das cantigas de escárnio, esse tipo de cantiga geralmente identifica a pessoa a ser satirizada, por exemplo:

Cantiga “A dona fremosa do Soveral” de Lopo Lias

A dona fremosa de Soveral
ha de mí dinheiros per preit'atal
que veess'a mí, u non houvess'al,
un día talhado a cas de Don Corral;
e é perjurada,
ca non fez en nada
e baratou mal,
ca desta vegada
será penhorad'a
que dobr'o sinal.

Se m'ela crever, cuido-m'eu, dar-lh'-hei
o melhor conselho que hoj'eu sei:
dé-mi meu haver e gracir-lho-hei;
se mi o non der, penhorá-la-hei:
ca mi o ten forçado,
do corp'alongado,
non lho sofrerei;
mais, polo meu grado,
dar-mi-á ben dobrad'o
sinal que lh'eu dei. 


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Resenha Crítica

 Aprenda a fazer uma boa resenha de filme seguindo os seguintes passos:

1. Assista ao filme

Para escrever sobre um filme a primeira coisa que você precisa fazer é assisti-lo atentamente, ou quando possível, assisti-lo pelo menos duas vezes.

O ideal é assistir uma vez, refletir sobre o filme, começar a esboçar a resenha, e voltar a assistir para garantir que não esqueceu de nada importante ou se enganou em alguma informação.

2. Leia sobre o tema abordado

Leia sobre o tema do filme e se informe sobre o que foi abordado. Ler sobre o tema não é ler outras resenhas do mesmo filme - para algumas pessoas isso pode influenciar o processo de escrita de forma negativa, e para essas pessoas, o ideal é consultar outras resenhas somente depois de escrever a sua própria.

Há pessoas, no entanto, que a leitura de outras resenhas até pode ajudar a desenvolver formas variadas de escrita e expandir seu conhecimento sobre resenhas.

Pesquise também sobre quem o dirigiu e que outros filmes foram realizados pelo mesmo diretor dessa produção cinematográfica. Isso é útil para perceber em que contexto o filme surge e qual a intenção do diretor.

3. Escolha o tipo de resenha

A escolha do tipo de resenha que você vai utilizar deve ir ao encontro do seu propósito.

As resenhas podem ser críticas ou descritivas.

As resenhas críticas contêm a opinião do resenhista, que faz uma avaliação do conteúdo do filme.

As resenhas descritivas contêm a informação sobre o conteúdo do filme, sem fazer julgamentos.

A existência de dois tipos de resenha não significa que uma resenha descritiva não possa ter qualquer tipo de opinião do resenhista. O que a caracterizará como uma resenha descritiva é o fato de esse tipo de resenha dar mais destaque à descrição do filme, enquanto uma resenha crítica, por sua vez, destacar o julgamento do resenhista.

4. Redija o seu texto

Siga a estrutura "introdução, desenvolvimento e conclusão" - e, em cada parte, distribua a informação da seguinte forma:

  • Introdução - indicação do tema abordado, local, época;
  • Desenvolvimento: indicação do conteúdo do filme (como os acontecimentos se desenrolam, mas sem narrá-los), intenção e público a que se destina;
  • Conclusão: indicação das dificuldades para entender o filme, se é interessante, se se destaca e comparação com outros filmes do mesmo gênero.

5. Verifique se o seu texto tem as características essenciais de uma resenha

  • Descrição: reflete a capacidade que você teve de descrever o conteúdo do filme, dando o leitor a conhecer o tema abordado nele;
  • Concisão: reflete a capacidade que você teve de escrever um texto sucinto, mas completo;
  • Objetividade: reflete a capacidade que você teve em abordar o que é mais importante no filme resenhado;
  • Argumentação: no caso da resenha crítica, reflete a capacidade que você teve de expor as suas ideias de forma organizada e a chance de convencer o leitor sobre elas.

    Exemplos de resenhas de filmes

    Trecho de resenha crítica de Pantera Negra, de Ryan Coogler

    Pantera Negra passa-se em Wakanda, o fictício país africano isolado do resto do mundo e que é uma potência tecnológica. Com o super-herói negro T’Challa, não é por acaso que a trilha sonora dessa produção cinematográfica, que une ancestralidade com modernidade, tem a força dos tambores africanos.

    É um sucesso de bilheteria muito interessante para assistir e talvez ainda mais para discutir, já que ele levanta questões sobre preconceito racial, relação entre países, e até mesmo sobre os refugiados.

    Trecho de resenha descritiva de A Vida é Bela, de Roberto Benigni

    A Vida é Bela é uma comédia trágica cuja história tem início na década de 30, na Itália. Lá, Guido, um garçom judeu divertido se apaixona por uma jovem rica, com quem casa e tem um filho.

    Por ocasião da Segunda Guerra Mundial, levados para um campo de concentração, Guido tenta proteger seu filho do horror que vivenciam fazendo com que ele acredite que estão num jogo. É uma história comovente, que ajuda a entender um pouco sobre alguns aspectos da Guerra.

    Resenha é a mesma coisa que resumo de filme?

    Resenha e resumo não são a mesma coisa.

    Resenha é a descrição feita de um filme, em que se ressalta o que ele tem de mais importante. Ela não deve ser confundida com resumo, porque a resenha é mais breve e faz apenas uma explanação do seu conteúdo, podendo contemplar a opinião do resenhista.

    Resumo contêm a narração sintetizada de acontecimentos e a descrição de seus personagens, sem acrescentar nada de novo, ou seja, sem qualquer juízo de valor do seu autor.

    O que é resenha de filme?

    A resenha destaca o tema abordado numa produção cinematográfica e situa o leitor no tempo e no espaço daquilo que ela conta, sem narrar os acontecimentos do filme - apenas fazendo uma explanação sobre ele.

    Esse tipo de texto tem o caráter de apresentação de uma obra, podendo conter a opinião do resenhista. Pelo fato de descrever de forma breve o conteúdo do filme, é muitas vezes lido pelas pessoas para orientar a sua escolha.Além disso, a resenha indica ao público algo que pode não ser percebido mesmo depois de assistir ao filme, motivo pelo qual consiste numa pequena análise.

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terça-feira, 12 de setembro de 2023

Crônica: características, tipos e exemplos

 A crônica é um gênero textual curto escrito em prosa, geralmente produzido para meios de comunicação, por exemplo, jornais, revistas, etc.

Além de ser um texto curto, possui uma "vida curta", ou seja, as crônicas tratam de acontecimentos corriqueiros do cotidiano.

A palavra “crônica”, do latim chronica, refere-se a um registro de eventos marcados pelo tempo cronológico. Do grego khronos, significa “tempo”.

Portanto, as crônicas estão extremamente conectadas ao contexto em que são produzidas, por isso, com o passar do tempo, elas perdem sua “validade”, ou seja, ficam fora do contexto.

As características das crônicas

  • narrativa curta;
  • uso de uma linguagem simples e coloquial;
  • presença de poucos personagens, se houver;
  • espaço reduzido;
  • temas relacionados a acontecimentos cotidianos.

Tipos de crônicas

Embora seja um texto que faz parte do gênero narrativo (com enredo, foco narrativo, personagens, tempo e espaço), há diversos tipos de crônicas que exploram outros gêneros textuais.

Podemos destacar a crônica descritiva e a crônica dissertativa. Além delas, temos:

  • Crônica Jornalística: mais comum das crônicas da atualidade são as crônicas chamadas de “crônicas jornalísticas” produzidas para os meios de comunicação, onde utilizam temas da atualidade para fazerem reflexões. Aproxima-se da crônica dissertativa.
  • Crônica Histórica: marcada por relatar fatos ou acontecimentos históricos, com personagens, tempo e espaço definidos. Aproxima-se da crônica narrativa.
  • Crônica Humorística: Esse tipo de crônica apela para o humor como forma de entreter o público, ao mesmo tempo que utiliza da ironia e do humor como ferramenta essencial para criticar alguns aspectos seja da sociedade, política, cultura, economia, etc.
Importante destacar que muitas crônicas podem ser formadas por dois ou mais tipos, por exemplo: uma crônica jornalística e humorística.

Exemplos de crônicas

1. Crônica de Machado de Assis (Gazeta de Notícias, 1889)

Quem nunca invejou, não sabe o que é padecer. Eu sou uma lástima. Não posso ver uma roupinha melhor em outra pessoa, que não sinta o dente da inveja morder-me as entranhas. É uma comoção tão ruim, tão triste, tão profunda, que dá vontade de matar. Não há remédio para esta doença. Eu procuro distrair-me nas ocasiões; como não posso falar, entro a contar os pingos de chuva, se chove, ou os basbaques que andam pela rua, se faz sol; mas não passo de algumas dezenas. O pensamento não me deixa ir avante. A roupinha melhor faz-me foscas, a cara do dono faz-me caretas...

Foi o que me aconteceu, depois da última vez que estive aqui. Há dias, pegando numa folha da manhã, li uma lista de candidaturas para deputados por Minas, com seus comentos e prognósticos. Chego a um dos distritos, não me lembra qual, nem o nome da pessoa, e que hei de ler? Que o candidato era apresentado pelos três partidos, liberal, conservador e republicano.

A primeira coisa que senti, foi uma vertigem. Depois, vi amarelo. Depois, não vi mais nada. As entranhas doíam-me, como se um facão as rasgasse, a boca tinha um sabor de fel, e nunca mais pude encarar as linhas da notícia. Rasguei afinal a folha, e perdi os dois vinténs; mas eu estava pronto a perder dois milhões, contando que aquilo fosse comigo.

Upa! que caso único. Todos os partidos armados uns contra os outros no resto do Império, naquele ponto uniam-se e depositavam sobre a cabeça de um homem os seus princípios. Não faltará quem ache tremenda a responsabilidade do eleito, — porque a eleição, em tais circunstâncias, é certa; cá para mim é exatamente o contrário. Dêem-me dessas responsabilidades, e verão se me saio delas sem demora, logo na discussão do voto de graças.

— Trazido a esta Câmara (diria eu) nos paveses de gregos e troianos, e não só dos gregos que amam o colérico Aquiles, filho de Peleu, como dos que estão com Agamenon, chefe dos chefes, posso exultar mais que nenhum outro, porque nenhum outro é, como eu, a unidade nacional. Vós representais os vários membros do corpo; eu sou o corpo inteiro, completo. Disforme, não; não monstro de Horácio, por quê? Vou dizê-lo.

E diria então que ser conservador era ser essencialmente liberal, e que no uso da liberdade, no seu desenvolvimento, nas suas mais amplas reformas, estava a melhor conservação. Vede uma floresta! (exclamaria, levantando os braços). Que potente liberdade! e que ordem segura! A natureza, liberal e pródiga na produção, é conservadora por excelência na harmonia em que aquela vertigem de troncos, folhas e cipós, em que aquela passarada estrídula, se unem para formar a floresta. Que exemplo às sociedades! Que lição aos partidos!

O mais difícil parece que era a união dos princípios monárquicos e dos princípios republicanos; puro engano. Eu diria: 1°, que jamais consentiria que nenhuma das duas formas de governo se sacrificasse por mim; eu é que era por ambas; 2°, que considerava tão necessária uma como outra, não dependendo tudo senão dos termos; assim podíamos ter na monarquia a república coroada, enquanto que a república podia ser a liberdade no trono, etc., etc.

Nem todos concordariam comigo; creio até que ninguém, ou concordariam todos, mas cada um com uma parte. Sim, o acordo pleno das opiniões só uma vez se deu abaixo do sol, há muitos anos, e foi na assembléia provincial do Rio de Janeiro. Orava um deputado, cujo nome absolutamente me esqueceu, como o de dois, um liberal, outro conservador, que virgulavam o discurso com apartes, — os mesmos apartes.

A questão era simples. O orador, que era novo, expunha as suas idéias políticas. Dizia que opinava por isso ou por aquilo. Um dos apartistas acudia: é liberal. Redargüia o outro: é conservador. Tinha o orador mais este e aquele propósito. É conservador, dizia o segundo; é liberal, teimava o primeiro. Em tais condições, prosseguia o novato, é meu intuito seguir este caminho. Redargüia o liberal: é liberal; e o conservador: é conservador. Durou este divertimento três quartos de colunas do Jornal do Comércio. Eu guardei um exemplar da folha para acudir às minhas melancolias, mas perdi-o numa das mudanças de casa.

Oh! não mudeis de casa! Mudai de roupa, mudai de fortuna, de amigos, de opinião, de criados, mudai de tudo, mas não mudeis de casa!

2. A sensível (Clarice Lispector)

Foi então que ela atravessou uma crise que nada parecia ter a ver com sua vida: uma crise de profunda piedade. A cabeça tão limitada, tão bem penteada, mal podia suportar perdoar tanto. Não podia olhar o rosto de um tenor enquanto este cantava alegre – virava para o lado o rosto magoado, insuportável, por piedade, não suportando a glória do cantor. Na rua de repente comprimia o peito com as mãos enluvadas – assaltada de perdão. Sofria sem recompensa, sem mesmo a simpatia por si própria.
Essa mesma senhora, que sofreu de sensibilidade como de doença, escolheu um domingo em que o marido viajava para procurar a bordadeira. Era mais um passeio que uma necessidade. Isso ela sempre soubera: passear. Como se ainda fosse a menina que passeia na calçada. Sobretudo passeava muito quando “sentia” que o marido a enganava. Assim foi procurar a bordadeira, no domingo de manhã. Desceu uma rua cheia de lama, de galinhas e de crianças nuas – aonde fora se meter! A bordadeira, na casa cheia de filhos com cara de fome, o marido tuberculoso – a bordadeira recusou-se a bordar a toalha porque não gostava de fazer ponto de cruz! Saiu afrontada e perplexa. “Sentia-se” tão suja pelo calor da manhã, e um de seus prazeres era pensar que sempre, desde pequena, fora muito limpa. Em casa almoçou sozinha, deitou-se no quarto meio escurecido, cheia de sentimentos maduros e sem amargura. Oh pelo menos uma vez não “sentia” nada. Senão talvez a perplexidade diante da liberdade da bordadeira pobre. Senão talvez um sentimento de espera. A liberdade.
Até que, dias depois, a sensibilidade se curou assim como uma ferida seca. Aliás, um mês depois, teve seu primeiro amante, o primeiro de uma alegre série.

3. O amor e a morte (Carlos Heitor Cony)

Foi em dezembro, dez anos atrás. Mila teve nove filhotes, impossível ficar com a ninhada inteira, fiquei com aquela que me parecia a mais próxima da mãe.

Nasceu em minha casa, foi gerada em minha casa, nela viveu esses dez anos, participando de tudo, recebendo meus amigos na sala, cheirando-os e ficando ao lado deles - sabendo que, de alguma forma, devia homenageá-los por mim e por ela.

Ao contrário da mãe, que tinha alguma autonomia existencial, aquilo que eu chamava de “fumos fidalgos”, como o Dom Casmurro, Títi era um prolongamento, o dia e a noite, o sol e todas as estrelas, o universo dela centrava-se em acompanhar, resumia-se em estar perto.

Quando Mila foi embora, há dois anos, ela compreendeu que ficara mais importante -e, se isso fosse possível, mais amada. Escoou com sabedoria a dor e o pranto, a ausência e a tristeza, e se já era atenta aos movimentos mais insignificantes da casa, com o tempo tornou-se um pedaço significante da vida em geral e do meu mundo particular.

Vida e mundo que deverão, agora, continuar sem ela -se é que posso chamar de continuação o que tenho pela frente. Perdi alguns amigos, recentemente, mas foram perdas coletivas que doeram, mas, de certa forma, são compensadas pela repartição do prejuízo.

Perder Títi é um “resto de terra arrancado” de mim mesmo -e estou citando pela segunda vez Machado de Assis, que criou um cão com o nome do dono (Quincas Borba) e sabia como ninguém que dono e cão são uma coisa só.

Essa “coisa só” fica mais só, nem por isso fica mais forte, como queria Ibsen. Fica apenas mais sozinho mesmo, sem ter aquele olhar que vai fundo da gente e adivinha até a alegria e a tristeza que sentimos sem compreender. Sem Títi, é mais fácil aceitar que a morte seja tão poderosa, desde que seja bem menos poderosa do que o amor.

A Crônica no Brasil

A crônica foi inicialmente desenvolvida com caráter histórico (as crônicas históricas). Elas relatavam desde o século XV fatos históricos (reais ou fictícios) ou acontecimentos cotidianos (sucessão cronológica), algumas com toque de humor.

Mais tarde, esse gênero textual despretensioso foi se aproximando do público e conquistando os leitores mundo afora. Hoje, esse fato é confirmado pela enorme difusão das crônicas, sobretudo nos meios de comunicação.

No Brasil, a crônica tornou-se um estilo textual bem difundido, desde a publicação dos "Folhetins" em meados do século XIX. Alguns escritores brasileiros que se destacaram como cronistas foram:

  • Machado de Assis
  • Carlos Drummond de Andrade
  • Rubem Braga
  • Luís Fernando Veríssimo
  • Fernando Sabino
  • Carlos Heitor Cony
  • Caio Fernando Abreu

Segundo o professor e crítico literário Antônio Cândido, em seu artigo “A vida ao rés-do-chão” (1980):

A crônica não é um “gênero maior”. Não se imagina uma literatura feita de grandes cronistas, que lhe dessem o brilho universal dos grandes romancistas, dramaturgos e poetas. Nem se pensaria em atribuir o Prêmio Nobel a um cronista, por melhor que fosse. Portanto, parece mesmo que a crônica é um gênero menor. “Graças a Deus”, seria o caso de dizer, porque sendo assim ela fica mais perto de nós. E para muitos pode servir de caminho não apenas para a vida, que ela serve de perto, mas para a literatura (...).

(...) Ora, a crônica está sempre ajudando a estabelecer ou restabelecer a dimensão das coisas e das pessoas. Em lugar de oferecer um cenário excelso, numa revoada de adjetivos e períodos candentes, pega o miúdo e mostra nele uma grandeza, uma beleza ou uma singularidade insuspeitadas. Ela é amiga da verdade e da poesia nas suas formas mais diretas e também nas suas formas mais fantásticas, sobretudo porque quase sempre utiliza o humor. Isto acontece porque não tem pretensões a durar, uma vez que é filha do jornal e da era da máquina, onde tudo acaba tão depressa. Ela não foi feita originalmente para o livro, mas para essa publicação efêmera que se compra num dia e no dia seguinte é usada para embrulhar um par de sapatos ou forrar o chão da cozinha.”

Nesse trecho, tão esclarecedor, podemos destacar as características fundamentais da crônica, como, por exemplo, a aproximação com o público, na medida em que contém uma linguagem mais direta e despretensiosa.

Além disso, o autor destaca um de seus principais aspectos, ou seja, a curta duração que possui esse produção textual.


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Aulas 13 e 14

 Elementos da conclusão do discurso Reconhecer os elementos da conclusão de um discurso;  Delimitar a conclusão de um discurso. “A primeira ...