Um pobre mendigo estava tentando juntar comida, mas todos os dias ela
desaparecia. Até que em um certo dia,
ele pegou o rato que roubava sua comida.
O mendigo, então, perguntou ao rato:
- Por que rouba minha comida? Afinal,
sou um mendigo, já não tenho nada. Vá roubar de pessoas ricas, elas nem vão
sentir falta!
O rato respondeu:
- O meu destino é roubar de você.
O mendigo queria saber:
- Por quê?
E o rato respondeu:
- Porque faz parte do seu destino ter
somente oito itens em sua posse. Você pode mendigar o quanto quiser, mas só
poderá ter oito itens.
O mendigo, de coração partido,
questionou a razão do seu destino, porém o rato não sabia responder e pediu que
o mendigo perguntasse ao Buda.
Assim, o mendigo iniciou sua viagem em
busca do Buda. Ele andou o dia todo, até que chegou em uma propriedade de
família rica, resolvendo parar e pedir abrigo ao senhor que o atendeu.
Prontamente, o senhor da casa o deixou entrar.
Assim que adentrou na casa, o senhor
perguntou:
- Para onde está indo, viajando tão tarde
da noite?
- Eu preciso encontrar Buda, pois tenho
uma questão para ele - respondeu o mendigo.
A esposa do senhor entrou no aposento e,
ao ouvir o que o mendigo dizia, perguntou:
- Pode fazer uma outra pergunta ao Buda?
- Sim, acredito que posso fazer um
questionamento em seu nome. Qual é a questão?
- Nós temos uma filha de 16 anos, que não
consegue falar e queremos saber o que fazer para resolver esse problema - disse
a esposa do senhor.
Na manhã seguinte, o mendigo prosseguiu
viagem agradecendo a hospitalidade e garantiu que faria a pergunta ao
Buda.
No meio do caminho, vislumbrou o mar de
montanhas que teria que atravessar e subiu em uma delas, onde encontrou um
feiticeiro que carregava um cajado e perguntou a ele:
- Pode me ajudar a atravessar as
montanhas?
O feiticeiro concordou e os dois subiram
no cajado do feiticeiro, voando sobre as montanhas. Enquanto voavam, o
feiticeiro perguntou:
- Para onde está indo? Para que
atravessar todas essas montanhas?
- Estou indo me encontrar com Buda.
Preciso questioná-lo sobre o meu destino - respondeu o mendigo.
- Verdade? Pode fazer uma pergunta ao
Buda em meu nome? Há mil anos tento ir ao paraíso, penso
que com os
meus conhecimentos já
poderia ir até
lá - questionou
o
feiticeiro.
-
Com certeza, posso
fazer essa pergunta
ao Buda em
seu nome -
respondeu o mendigo.
Prosseguindo sua viagem, o mendigo se
deparou com mais um obstáculo: um rio que ele não conseguia atravessar.
Pensando
como faria para
atravessar o rio,
o mendigo viu
surgir uma tartaruga gigante, que o levou até o outro
lado do rio.
Enquanto atravessavam o rio, a tartaruga
perguntou:
- Para onde vais que precisa atravessar o
rio?
- Vou ver o Buda! Quero saber sobre o meu
destino - respondeu o mendigo.
- Pode levar uma pergunta minha ao Buda,
por favor? - perguntou a tartaruga.
- Posso sim! Qual é a pergunta?
- Eu tento me transformar em dragão há
mais de 500 anos e, segundo meus conhecimentos, já deveria ter me transformado
em dragão. Como faço para me transformar nele? Pode perguntar isso ao Buda?
- Eu levo a sua pergunta ao Buda e agradeço
por ter me ajudado a atravessar o rio.
Assim, o mendigo continuou a sua viagem até
chegar onde o Buda morava. O mendigo parou por um momento em frente ao
mosteiro, respirou fundo, caminhando com determinação e entusiasmo, pronto para
fazer a sua pergunta e a de todos que
encontrou
pelo caminho.
Adentrando ao mosteiro, o mendigo encontrou
o Buda e fez uma reverência:
- Buda, por favor, aceite minhas
felicitações, viajei de muito longe para estar diante de ti e fazer algumas
perguntas. Posso perguntar?
O Buda prontamente aceitou e disse:
- Eu te responderei apenas três questões.
O jovem mendigo não acreditou no que ouviu,
ele tinha quatro questões. Como faria para honrar a sua palavra e ainda fazer a
sua pergunta? Pensou em todos que o ajudaram
a chegar
até ali. A
menina que ficaria
sem falar por
toda vida, o
feiticeiro que não chegaria
ao sonhado paraíso
e na tartaruga
que tentava se
tornar um dragão.
Então, pensou:
“Eu sou apenas um mendigo! Posso voltar às
ruas e continuar pedindo, já estou acostumado! Mas para eles, tudo pode mudar
se tiverem suas respostas.”
Sentindo
que seu problema
era muito pequeno
diante dos problemas
dos outros, perguntou ao Buda
apenas as perguntas daqueles que o ajudaram.
Como esperado, o Buda respondeu:
- A menina só conseguirá falar quando
encontrar a sua alma gêmea, a tartaruga virará dragão quando estiver disposta a
sair de seu casco, do seu conforto, e o feiticeiro nunca
solta
seu cajado porque ele tem um peso, como uma âncora que não permite que ele siga
ao paraíso.
Assim, o mendigo agradeceu ao Buda e
iniciou o seu retorno para casa.
Durante a sua volta, como era esperado,
encontrou seus novos amigos. Primeiro, foi a tartaruga que queria saber:
- Perguntou ao Buda como posso virar
dragão?
- Sim! Ele disse que você só precisa abandonar
o seu casco para se tornar dragão!
A tartaruga, então, saiu de seu casco e o
ofereceu ao mendigo em agradecimento.
Dentro
deste casco havia pérolas preciosas, encontradas nas águas mais profundas do
oceano.
Continuando seu retorno, o mendigo
encontrou o feiticeiro no topo na montanha e logo foi contando a ele sobre a
resposta do Buda:
- Você só precisa soltar seu cajado e
poderá seguir para o paraíso!
Ao ouvir a resposta, o feiticeiro
ofereceu seu cajado ao mendigo, agradecendo, pois agora poderia ir ao paraíso.
O
mendigo agora tinha
o poder do
feiticeiro e a riqueza
da tartaruga, assim, continuou sua viagem de volta, indo
até a casa da família que o abrigou.
Chegando à propriedade, a família ficou
muito contente com o seu retorno e com a resposta que ele trazia.
- O Buda disse que sua filha voltará a
falar quando encontrar sua alma gêmea.
Naquele momento, a jovem filha do casal
desceu as escadas e falou:
- Não foi esse rapaz que esteve aqui na
semana passada?
Todos ficaram espantados e olharam para
o mendigo: ele era a alma gêmea da filha!
O casamento foi marcado e todos viveram
felizes para sempre....
Moral da história: Tudo o que fazemos para o
mundo voltará para nós!
Lígia
Carina C. Barbosa – Texto adaptado para este material
1)
Vocês conhecem alguma pessoa do nosso tempo que segue alguns dos ensinamentos
de Buda? Deem exemplos.
2)
É possível que cada um de nós possamos desenvolver alguns desses ensinamentos?
3)
O que levou o mendigo, após exaustiva jornada, abrir mão de sua resposta?
4)
O mendigo foi capaz de desenvolver alguns dos ensinamentos de Buda? Quais?
5)
Na fábula, o que o mendigo recebeu após ajudar a cada um que encontrou pelo
caminho?
6)
Ele agiu pensando na recompensa?